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quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Uma auto-análise a partir de um sonho

              A seguir, usarei meu próprio exemplo para fazer uma análise e uma possível interpretação real de um sonho vivido por mim.
            Desde que iniciei a leitura sobre a “Interpretação dos sonhos” (Freud, 1900), tenho conseguido resgatar com maior facilidade as lembranças de meus sonhos e apresentado maior interesse pelos seus possíveis significados. Sendo assim, tenho praticado com certa freqüência o “exercício” de auto-análise.
Resolvi escrever um dos primeiros sonhos em que pude entrar em contato com conclusões mais consistentes e um pouco mais esclarecedoras em relação à interpretação dos meus próprios sonhos, me permitindo assim, uma maior experiência de análise e compreensão tanto da prática do sonhar como da teoria á ser estudada.
Relato do sonho:
            Ao acordar, tive a impressão de que a duração temporal do sonho teria ocupado quase que todo tempo em que estive dormindo, me recordando de cenas claramente nítidas, porém desordenadas cronologicamente e pertencentes a uma organização confusa.     
Recordo-me de estar dentro de um carro, sentada sozinha no banco de passageiro com a sensação de alguém estar no banco do motorista responsável por guiar o carro (não consigo me recordar da sua imagem, mas me parecia um motorista de táxi desconhecido).
O carro estava estacionado próximo à calçada da rua onde em frente se localizava a porta de uma estação de metrô. Lá permaneci por algum tempo, aguardando por alguém.
Depois de algum tempo, minha irmã mais nova, sai pela porta, como quem estivesse vindo de dentro da estação ao meu encontro.
 Parecia estar muito brava, fazia expressões faciais de nervoso e gesticulava as mãos como se estivesse discutindo comigo. Eu reconhecia o seu estado emocional, porém não conseguia ouvir com nitidez o conteúdo daquilo que estava tentando me dizer.
            Começo a tentar convencê-la a parar de “brigar” e entrar no carro, mas ela se recusa , preferindo subir á pé uma longa e difícil ladeira.
            Na medida em que ela seguia andando, fui acompanhando seus passos com o carro, na tentativa de convencê-la a entrar, porém ela se recusava , deixando bem  claro para mim o seu estado emocional irritadiço.
            Intercalada a todas estas cenas, me recordo de uma sacola com uma garrafa de vinagre dentro do táxi, na qual a acomodei no banco de trás.
A interpretação do sonho:
          
Ao iniciar a reflexão sobre os conteúdos do sonho, procurei entrar em contato com os sentimentos relacionados com a situação semelhante vivida durante o período de vigília.
            Pude perceber então, o quanto me sinto incomodada com a sensação de dependência de alguém mesmo sendo responsável por isso.
            E o quanto naquele dia, ficou exposto os meus sentimentos de “raiva” e “descontentamento” pela minha irmã, que recusa uma solicitação, na qual compreendia como sendo uma obrigação dela em satisfazer a minha necessidade.
            Isso permitiu esclarecer algo no meu comportamento que funciona como um sintoma, já que pude identificar diversas situações do meu cotidiano em que me sinto “descontente” quando me vejo impossibilitada de resolver algo de acordo com as minhas expectativas.
            E o quanto apresento a dificuldade em admitir isso, “manipulando” algumas situações em que eu consiga desencadear no outro aquilo que eu mesma estou sentindo.
            Cheguei a esta conclusão quando identifiquei no sonho, a “raiva da minha irmã” como um desejo meu, de poder fazê-la sentir tais emoções, funcionando como uma espécie de “troco”.
Porém algo na minha “censura interna” me fazia acalmar a reação dela, negando o verdadeiro sentido do desejo.

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