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terça-feira, 28 de setembro de 2010

Sobre o início do tratamento – S. Freud

           Neste texto Freud utiliza-se de sua experiência para colocar algumas “regras” referentes à prática psicanalítica. Enfatizando que tais regras devem ser compreendidas como recomendações, levando em consideração seus limites e a complexidade dos processos mentais.
            Descreve que o paciente ao chegar para ser analisado é preciso iniciar uma preliminar (de uma ou duas semanas) anterior ao início do tratamento, onde o analista poderá colher maiores informações sobre o indivíduo amenizando também o sentimento de frustração caso não se adaptem aos métodos propostos, pois terá em mente que o tratamento ainda não havia iniciado. Nesta fase preliminar, o analista deve interromper o mínimo necessário, fazendo com que o paciente sinta-se confortável para dizer tudo que lhe vem à mente.
            Freud alerta que se deve desconfiar dos pacientes que resistem ao início do tratamento, pois podem não comparecer quando a ocasião é combinada.
            Faz também um alerta sobre as dificuldades encontradas em atendimentos de pessoas próximas, que mantém um laço de amizade, ou laços sociais.
            Considera de pouca importância o nível de confiança que o paciente sustenta pelo tratamento, já que isso se torna mínimo de ante as resistências internas.
            Descreve que mesmo aquele que também possui suas resistências internas, pode perfeitamente realizar uma análise em outras pessoas.
            Ao se iniciar o tratamento psicanalítico, deve-se acordar em relação ao tempo e o pagamento. Cabe ao paciente arcar com aquele horário que lhe foi atribuído, sendo ele utilizado pessoalmente ou não. Assim Freud acredita que se reduzem as resistências e se mantém o material trabalhado. Enquanto o analista não deve sentir-se culpado, pois o tempo quase nunca se é utilizado com atividades remuneradas de lazer sendo  mesmo de ante ao não comparecimento do paciente a análise continua a acontecer. Porém, abre uma exceção para doenças físicas, nas quais o paciente pode apresentar um interesse psíquico de comparecer.
            Em relação à freqüência, Freud refere trabalhar com seus pacientes todos os dias da semana, sendo três vezes por semana os casos leves ou que já se encontram melhor. Alegando que mesmo interrupções breves (como dos finais de semana) já prejudicam o conteúdo trabalhado. Assim como o tempo de sessão, em que alguns casos, uma hora não se faz suficiente.
            Quanto à curiosidade que se apresenta em relação ao tempo de duração do tratamento, Freud coloca como uma pergunta quase irrespondível, já que o trabalho varia de acordo com cada funcionamento psíquico e não se pode atingir uma conclusão antecipada de como o trabalho irá prosseguir. Porém afirma que a psicanálise não acontece de forma breve (“meio ano ou anos inteiros”), considerando que as profundas mudanças da mente necessitam de tempo para acontecer.
            Coloca como necessário o conhecimento de que as neuroses funcionam como um todo, não sendo possível tratar sintomas isoladamente.
            Sendo o paciente ideal aquele que busca saúde completa e disponibiliza o tempo que for necessário para a realização do trabalho.
            Em relação ao dinheiro cobrado em sessão, Freud considera condição básica para que o trabalho aconteça, sugerindo para que não se faça caridades ou tratamentos gratuitos, pois quando se sobrecarrega de forma não equilibrada uma das partes, a análise pode ser prejudicada. Interferindo inclusive na relação transferecial.
Deve-se falar com o paciente sobre dinheiro de maneira aberta e clara, assim como se deve falar sobre a sexualidade, demonstrando que ambos podem ser tratados de maneira civilizada e esclarecida.
            O analista, segundo ele, deve cobrar um valor considerável tendo em mente que possui um método de trabalho útil e eficaz, assim como um cirurgião. Avaliando que a doença e a estupidez são sempre mais “caros” que qualquer tratamento.
               Freud explica sobre a utilização do divã, que em primeiro lugar é feita para benefício do próprio analista, que deve estar preservado de influenciar através de seus pensamentos inconscientes e expressões corporais na corrente dos pensamentos do paciente, assim como evita de ser “observado” durante toda sua jornada de trabalho.
            Inicialmente deve-se deixar que o paciente inicie sua fala do ponto onde escolher, porem anteriormente deve-se fazer a observação para que ele diga tudo que sabe a seu respeito, procurando dizer principalmente conteúdos que parecem ser censurados pela mente, trazendo a impressão de que não devem ser ditos.
            Orienta que nunca se deve esperar um relato sistemático, como não se deve incentivá-lo, alegando que cada detalhe pode ser usado como conteúdo de trabalho e que repetições sempre acontecem.
            Diminuem-se ás resistências, as influências e o “desperdício” de conteúdos importantes quando o paciente evita comentar sobre o tratamento com pessoas de seu convívio.
            Caso o paciente apresente necessidade de realizar um tratamento de causa orgânica, convém encaminhá-lo a outro especialista, nunca oferecendo na análise outros caminhos que o possam levar a saúde.
            Freud utiliza-se de sua experiência prática para concluir que o conteúdo a ser trabalhado deve-se restringir ao que o paciente comunica, não havendo efetividade nas informações provindas do externo (como de parentes ou cônjuges).
            Somente após uma eficaz transferência e vínculo já estabelecido é que se deve comunicar ao paciente as interpretações e intervenções. Não sendo recomendado utilizar pontos de vistas que contrariem ou julgue de forma moral aquilo que o paciente diz. Assim como se deve atentar para não realizar “diagnósticos relâmpagos” que geralmente acontecem no momento em que o paciente não se encontra preparado, gerando assim um efeito contrário no sucesso da análise. Fazendo como que a resistência aumente a possibilidade de superá-la diminua.
            Freud recorda que o que motiva o paciente a fazer análise é o sofrimento vivido por ele e o desejo de curar-se, não tendo para este fim o conhecimento necessário do caminho a seguir e de como arrecadar energias para romper as barreiras da resistência, sendo esses os dois pontos oferecidos a ele durante a terapia psicanalítica. Sendo possível reduzir ou eliminar os sintomas ao longo do processo de mudança e ganhar uma maior compreensão intelectual sobre si próprio.
           

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