Um espaço de acesso a pensamentos, pontuações e grandes obras da psicanálise.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Uma auto-análise a partir de um sonho

              A seguir, usarei meu próprio exemplo para fazer uma análise e uma possível interpretação real de um sonho vivido por mim.
            Desde que iniciei a leitura sobre a “Interpretação dos sonhos” (Freud, 1900), tenho conseguido resgatar com maior facilidade as lembranças de meus sonhos e apresentado maior interesse pelos seus possíveis significados. Sendo assim, tenho praticado com certa freqüência o “exercício” de auto-análise.
Resolvi escrever um dos primeiros sonhos em que pude entrar em contato com conclusões mais consistentes e um pouco mais esclarecedoras em relação à interpretação dos meus próprios sonhos, me permitindo assim, uma maior experiência de análise e compreensão tanto da prática do sonhar como da teoria á ser estudada.
Relato do sonho:
            Ao acordar, tive a impressão de que a duração temporal do sonho teria ocupado quase que todo tempo em que estive dormindo, me recordando de cenas claramente nítidas, porém desordenadas cronologicamente e pertencentes a uma organização confusa.     
Recordo-me de estar dentro de um carro, sentada sozinha no banco de passageiro com a sensação de alguém estar no banco do motorista responsável por guiar o carro (não consigo me recordar da sua imagem, mas me parecia um motorista de táxi desconhecido).
O carro estava estacionado próximo à calçada da rua onde em frente se localizava a porta de uma estação de metrô. Lá permaneci por algum tempo, aguardando por alguém.
Depois de algum tempo, minha irmã mais nova, sai pela porta, como quem estivesse vindo de dentro da estação ao meu encontro.
 Parecia estar muito brava, fazia expressões faciais de nervoso e gesticulava as mãos como se estivesse discutindo comigo. Eu reconhecia o seu estado emocional, porém não conseguia ouvir com nitidez o conteúdo daquilo que estava tentando me dizer.
            Começo a tentar convencê-la a parar de “brigar” e entrar no carro, mas ela se recusa , preferindo subir á pé uma longa e difícil ladeira.
            Na medida em que ela seguia andando, fui acompanhando seus passos com o carro, na tentativa de convencê-la a entrar, porém ela se recusava , deixando bem  claro para mim o seu estado emocional irritadiço.
            Intercalada a todas estas cenas, me recordo de uma sacola com uma garrafa de vinagre dentro do táxi, na qual a acomodei no banco de trás.
A interpretação do sonho:
          
Ao iniciar a reflexão sobre os conteúdos do sonho, procurei entrar em contato com os sentimentos relacionados com a situação semelhante vivida durante o período de vigília.
            Pude perceber então, o quanto me sinto incomodada com a sensação de dependência de alguém mesmo sendo responsável por isso.
            E o quanto naquele dia, ficou exposto os meus sentimentos de “raiva” e “descontentamento” pela minha irmã, que recusa uma solicitação, na qual compreendia como sendo uma obrigação dela em satisfazer a minha necessidade.
            Isso permitiu esclarecer algo no meu comportamento que funciona como um sintoma, já que pude identificar diversas situações do meu cotidiano em que me sinto “descontente” quando me vejo impossibilitada de resolver algo de acordo com as minhas expectativas.
            E o quanto apresento a dificuldade em admitir isso, “manipulando” algumas situações em que eu consiga desencadear no outro aquilo que eu mesma estou sentindo.
            Cheguei a esta conclusão quando identifiquei no sonho, a “raiva da minha irmã” como um desejo meu, de poder fazê-la sentir tais emoções, funcionando como uma espécie de “troco”.
Porém algo na minha “censura interna” me fazia acalmar a reação dela, negando o verdadeiro sentido do desejo.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Sobre o início do tratamento – S. Freud

           Neste texto Freud utiliza-se de sua experiência para colocar algumas “regras” referentes à prática psicanalítica. Enfatizando que tais regras devem ser compreendidas como recomendações, levando em consideração seus limites e a complexidade dos processos mentais.
            Descreve que o paciente ao chegar para ser analisado é preciso iniciar uma preliminar (de uma ou duas semanas) anterior ao início do tratamento, onde o analista poderá colher maiores informações sobre o indivíduo amenizando também o sentimento de frustração caso não se adaptem aos métodos propostos, pois terá em mente que o tratamento ainda não havia iniciado. Nesta fase preliminar, o analista deve interromper o mínimo necessário, fazendo com que o paciente sinta-se confortável para dizer tudo que lhe vem à mente.
            Freud alerta que se deve desconfiar dos pacientes que resistem ao início do tratamento, pois podem não comparecer quando a ocasião é combinada.
            Faz também um alerta sobre as dificuldades encontradas em atendimentos de pessoas próximas, que mantém um laço de amizade, ou laços sociais.
            Considera de pouca importância o nível de confiança que o paciente sustenta pelo tratamento, já que isso se torna mínimo de ante as resistências internas.
            Descreve que mesmo aquele que também possui suas resistências internas, pode perfeitamente realizar uma análise em outras pessoas.
            Ao se iniciar o tratamento psicanalítico, deve-se acordar em relação ao tempo e o pagamento. Cabe ao paciente arcar com aquele horário que lhe foi atribuído, sendo ele utilizado pessoalmente ou não. Assim Freud acredita que se reduzem as resistências e se mantém o material trabalhado. Enquanto o analista não deve sentir-se culpado, pois o tempo quase nunca se é utilizado com atividades remuneradas de lazer sendo  mesmo de ante ao não comparecimento do paciente a análise continua a acontecer. Porém, abre uma exceção para doenças físicas, nas quais o paciente pode apresentar um interesse psíquico de comparecer.
            Em relação à freqüência, Freud refere trabalhar com seus pacientes todos os dias da semana, sendo três vezes por semana os casos leves ou que já se encontram melhor. Alegando que mesmo interrupções breves (como dos finais de semana) já prejudicam o conteúdo trabalhado. Assim como o tempo de sessão, em que alguns casos, uma hora não se faz suficiente.
            Quanto à curiosidade que se apresenta em relação ao tempo de duração do tratamento, Freud coloca como uma pergunta quase irrespondível, já que o trabalho varia de acordo com cada funcionamento psíquico e não se pode atingir uma conclusão antecipada de como o trabalho irá prosseguir. Porém afirma que a psicanálise não acontece de forma breve (“meio ano ou anos inteiros”), considerando que as profundas mudanças da mente necessitam de tempo para acontecer.
            Coloca como necessário o conhecimento de que as neuroses funcionam como um todo, não sendo possível tratar sintomas isoladamente.
            Sendo o paciente ideal aquele que busca saúde completa e disponibiliza o tempo que for necessário para a realização do trabalho.
            Em relação ao dinheiro cobrado em sessão, Freud considera condição básica para que o trabalho aconteça, sugerindo para que não se faça caridades ou tratamentos gratuitos, pois quando se sobrecarrega de forma não equilibrada uma das partes, a análise pode ser prejudicada. Interferindo inclusive na relação transferecial.
Deve-se falar com o paciente sobre dinheiro de maneira aberta e clara, assim como se deve falar sobre a sexualidade, demonstrando que ambos podem ser tratados de maneira civilizada e esclarecida.
            O analista, segundo ele, deve cobrar um valor considerável tendo em mente que possui um método de trabalho útil e eficaz, assim como um cirurgião. Avaliando que a doença e a estupidez são sempre mais “caros” que qualquer tratamento.
               Freud explica sobre a utilização do divã, que em primeiro lugar é feita para benefício do próprio analista, que deve estar preservado de influenciar através de seus pensamentos inconscientes e expressões corporais na corrente dos pensamentos do paciente, assim como evita de ser “observado” durante toda sua jornada de trabalho.
            Inicialmente deve-se deixar que o paciente inicie sua fala do ponto onde escolher, porem anteriormente deve-se fazer a observação para que ele diga tudo que sabe a seu respeito, procurando dizer principalmente conteúdos que parecem ser censurados pela mente, trazendo a impressão de que não devem ser ditos.
            Orienta que nunca se deve esperar um relato sistemático, como não se deve incentivá-lo, alegando que cada detalhe pode ser usado como conteúdo de trabalho e que repetições sempre acontecem.
            Diminuem-se ás resistências, as influências e o “desperdício” de conteúdos importantes quando o paciente evita comentar sobre o tratamento com pessoas de seu convívio.
            Caso o paciente apresente necessidade de realizar um tratamento de causa orgânica, convém encaminhá-lo a outro especialista, nunca oferecendo na análise outros caminhos que o possam levar a saúde.
            Freud utiliza-se de sua experiência prática para concluir que o conteúdo a ser trabalhado deve-se restringir ao que o paciente comunica, não havendo efetividade nas informações provindas do externo (como de parentes ou cônjuges).
            Somente após uma eficaz transferência e vínculo já estabelecido é que se deve comunicar ao paciente as interpretações e intervenções. Não sendo recomendado utilizar pontos de vistas que contrariem ou julgue de forma moral aquilo que o paciente diz. Assim como se deve atentar para não realizar “diagnósticos relâmpagos” que geralmente acontecem no momento em que o paciente não se encontra preparado, gerando assim um efeito contrário no sucesso da análise. Fazendo como que a resistência aumente a possibilidade de superá-la diminua.
            Freud recorda que o que motiva o paciente a fazer análise é o sofrimento vivido por ele e o desejo de curar-se, não tendo para este fim o conhecimento necessário do caminho a seguir e de como arrecadar energias para romper as barreiras da resistência, sendo esses os dois pontos oferecidos a ele durante a terapia psicanalítica. Sendo possível reduzir ou eliminar os sintomas ao longo do processo de mudança e ganhar uma maior compreensão intelectual sobre si próprio.
           

Texto: Repressão – Freud 1915.

Freud declara que “A teoria da repressão é a pedra angular sobre a qual repousa toda a estrutura da psicanálise”.
Existem algumas resistências que procuram tornar inoperante um impulso instintual, sendo assim, ele se passa para o estado de “repressão”. “A repressão é uma etapa preliminar da condenação, algo entre a fuga e a condenação”.
É necessário considerar que em certas circunstancias, o prazer de satisfazer um instinto se transforma em um tipo de desprazer, que tal satisfação seria invariavelmente agradável em si mesma, embora irreconciliável com outras reivindicações e intenções, causando prazer em um lugar e desprazer em outro.
A repressão não surge nos casos em que a tensão produzida pela falta de satisfação de um impulso instintual é elevada a um grau insuportável (ex. não reprimimos a fome porque ela chegou a um grau de “sofrimento”). A essência da repressão consiste em afastar determinada coisa do consciente, mantendo-a a distância. 
Repressão primeva – uma primeira fase de repressão, que consiste em negar entrada do representando psíquico do instinto no consciente.
Repressão propriamente dita: Segunda fase da repressão, afeta os derivados mentais do conteúdo reprimido, quando o instinto sofre algumas associações de idéias e por conta disso, ele originalmente também é reprimido e “substituído” por esses outras associações.
Funciona como uma repressão posterior.
A repressão não impede que o representante do instinto continue a existir no incs, se organize, de origem a derivados e estabeleça ligações. Na verdade a repressão só interfere na relação do representante instintual com o cs.
O representante instintual “se prolifera no escuro”, assumindo formas extremas de expressão mesmo estando fora do cs.
Quando se formam derivados suficientemente afastados do representante reprimido- quer devido à adoção de distorções, quer por causa do grande numero de elos intermediários inseridos, eles terão livre acesso ao cs. Tudo isso se passa como se a resistência do cs contra eles constituísse uma função da distancia existente entre eles e aquilo que foi originalmente reprimido.
Na clínica psicanalítica, o paciente faz as associações até ser levado de encontro a pensamentos cuja relação com o reprimido fique tão óbvia, que force a repetir sua tentativa de repressão.
Via de regra a repressão só pode ser removida temporariamente, reinstalando-se imediatamente.   
O processo de repressão não deve ser encarado como um fato que acontece uma única vez, produzindo resultados permanentes.
Podemos supor que o reprimido exerce uma pressão continua em direção ao cs., de forma que essa pressão pode ser equilibrada por uma contrapressão incessante.
O conteúdo reprimido também é mobilizado durante o sono, permitindo a produção dos sonhos.
O instinto pode se reprimir de duas maneiras: Ou ele é inteiramente suprimido, de modo que não se encontre qualquer vestígio ou aparece como um afeto que pode estender para outros derivados ou transformado em ansiedade.
Se uma repressão não conseguir impedir que surjam sentimentos de desprazer e de ansiedade, pode-se dizer que ela falhou essas repressões que “falham” exercerão maior influencia sobre nosso interesse do que qualquer outra que possa ter sido bem sucedida, já que na maioria das vezes, escapará ao nosso exame.
O mecanismo de repressão não coincide com o mecanismo da formação de substitutos.
Existem numerosos e diferentes mecanismos de formação de substitutos.
Os mecanismos de repressão têm pelos menos uma coisa em comum: uma retirada da catexia de energia.
Na histeria da ansiedade, o impulso instintual sujeito a repressão é uma atitude libidinal para com o pai, aliado ao medo dele.Após a repressão, esse impulso desaparece da cs, substituindo o pai por algum outro objeto (um animal por ex.) O resultado é um medo desse “animal”, em vez de uma exigência de amor feita ao pai.
Na histeria de conversão existe uma extensa formação de substitutos e é completada pela formação do sintoma.
Na neurose obsessiva, existe a duvida quanto ao que se deve considerar como sendo o representante instintual sujeito a repressão uma tendência libidinal ou hostil – pois a tendência sádica foi substituída por uma afetiva. É esse impulso hostil contra alguém que é amado que se acha sujeito a repressão.

domingo, 26 de setembro de 2010

Winnicott: A Posição Depressiva no Desenvolvimento Normal 1954

 Á seguir, em breve tópicos, importantes conceitos citados no texto:
Winnicott vai explicar o conceito de Posição Depressiva de Melanie Klein a partir de seu ponto de vista, segundo os estudos que realizou nas supervisões de caso tidas com ela.
O termo “normal” do título refere-se à Posição Depressiva como parte do desenvolvimento saudável dos bebes.
O termo “depressiva” nada tem a ver cm a patologia depressão. Sugere o termo estado de concernimento”
Se o individuo consegue relacionar-se com outras pessoas é porque ele já ultrapassou a Pos. Depressiva. O contrário disso, o indivíduo terá dificuldades na integração de sua personalidade e no relacionamento com o meio ambiente.
Uma criança chega a P.Depressiva sendo sustentada pela mãe- de modo que o bebê tenha chance de elaborar as conseqüências de suas experiências instintivas. A maternagem permite a coexistência do amor e do ódio de uma forma saudável.
Faz uma associação com a Posição Depressiva e a idade do desmame (considerando a melhor fase para o desmame quando a criança é capaz de brincar de deixar os objetos caírem). Não é necessário fixar uma idade exata, mas diz que a PD é algo que se localiza entre seis e doze meses e que representa uma evidencia do crescimento pessoal.
Os estágio anteriores da vida ou da análise devem ter sido ultrapassados sem maiores problemas para que a PD seja alcançada e para isso o bebê necessita estabelecer-se como uma pessoa inteira,ter vivencia de estar dentro de seu próprio corpo e é a partir daí que Winnicott vai fazer as suas considerações.
A princípio a criança é impiedosa. A mudança para a aquisição da piedade é gradual através da maternagem assim caracterizando a PD (da pré piedade para a piedade).
A função do ambiente – o momento seguinte á obtenção do status de unidade vai depender de um ambiente estável e confiável.
O bebe começa a unir as duas imagens que tem forma da mãe (aquela mãe que o acolhe e o satisfaz e aquela mãe alvo de seus ataques (“tensão instintiva”) no momento em que o bebe está com raiva, excitado e nervoso.
“Chega um momento em que ele começa a perceber que existem dois usos inteiramente diferentes da mesma mãe. – neste período há uma percepção da identidade de dois objetos e o inicio do reconhecimento de que existem idéias, fantasias e imaginações.
Ansiedade depressiva – uma briga entre o que é sentido como bom, ou seja, apoiando o eu, alimentando-o e satisfazendo-o, e o que é sentido como mau, persecutório para o eu, alvo de voracidade, o que o agrada e depois o rejeita.
Neste momento é muito importante que haja um ambiente suficientemente bom caracterizado pela sobrevivência da mãe.
            “O bebê toma a cs de que a mãe tranqüila esteve envolvida com a grande onda da experiência instintiva e sobreviveu. Isto se repete dia após dia, e finalmente ocorre um somatório que faz o bebe começar a reconhecer a diferença entre os fatos e a fantasia, ou entre a realidade interna e externa.
A mãe vai mostrando para o bebe que ele tem coisas ruins e boas para oferecer e ela aceita ambos.
Conceito do seio bom: Mãe que sustenta a situação, mantendo-se inteira. Assim o bebe pode internalizar essa maneira de lidar com as situações e seguir em frente no desenvolvimento.
O bebê pela primeira vez percebe que tem ALGO para oferecer (diferente de antes em que só recebia) e é traves desta doação que ele vai tentando fazer a reparação com a mãe.
Estabelece-se um ciclo benigno:
-um relacionamento complicado do bebe com a mãe.
- uma leve preocupação com as conseqüências
- uma elaboração interna, um balanço dos resultados.
- uma capacidade de dar, devido a separação do bom e do ruim internos
- reparação.
Aparecimento da Culpa- fonte normal e saudável nos relacionamentos devido ás ambigüidades. Culpa verdadeira e não uma culpa implantada (falsa para o eu).
Após algum tempo o individuo será capaz de constituir memórias de experiências sentidas como boas, e o molde da mãe sustentando a situação, torna-se parte do eu, assim a mãe real vai sendo cada vez menos necessária e um ambiente interno vai sendo adquirido.  
Mundo interno do individuo que alcançou a P.Depressiva constitui:
- Forças em conflito
-Objetos bons e maus
- Materiais percebidos como bons e introjetados para fins de enriquecimento e estabilização de personalidade.
- Material percebido como mau, introjetado no intuito de ser controlado.
Existem vários outros MEC. De defesa para a PD (isolamento de grupos persec., introj. Do obj idealizado, proj. mágica do bom ou do mau, negação...)
Defesa Maníaca- tentativa de lidar com estado depressivo. Nega aquilo que esta sendo sentido convertendo em seu oposto. Sua presença pode significar que a posição depressiva foi alcançada, mas mantida a distancia ou negada, mais do que perdida.
Quando a PD foi alcançada e bem estabelecida, a reação á perda é de tristeza e dor, se ocorreu uma falha a reação é a depressão.

Pontuações sobre o texto: Construções em Análise (1937)- S. Freud.

Freud inicia sua reflexão a partir de um comentário feito por um “bem conhecido homem de ciência” sobre o analista sempre ter a razão quando faz uma interpretação, diz que quando o paciente concorda , é porque ela está correta, e quando discorda é porque demonstra um sinal de sua resistência.
Freud concorda quando diz que um “sim” ou um “não” de um paciente podem ter significados ambíguos.
Coloca como trabalho da análise, fazer com que o paciente abandone as repressões de seu desenvolvimento primitivo, substituindo-as por reações mais adaptadas a uma condição psiquicamente madura.
 Sintomas e inibições são conseqüências destas repressões que foram substituídas e, portanto esquecidas.
 Existem alguns caminhos que podem fazer com que o analista conduza o aparecimento de sinais destes conteúdos reprimidos como através de sonhos, associação livre e vivências na sua própria relação com o paciente.
 A tarefa do analista é de completar aquilo que foi esquecido a partir dos traços apresentados pelo paciente, ajudando-o a reconstruir sua história.
Analista x Arqueólogo – Trabalho de reconstrução através do uso de fragmentos (paredes, alicerces, colunas, restos de pinturas etc. no caso do arqueólogo e lembranças, associações e comportamentos no caso do analista).
O arqueólogo lida com objetos já destruídos, incapazes de retornarem a sua forma original; Já o analista lida com elementos que ainda se encontram preservados. Mesmo as coisas que parecem estar completamente esquecidas, estão presentes e se encontram “enterradas” e inacessíveis ao indivíduo.
Materiais psíquicos são mais complicados que os materiais escavados, já que possuímos um conhecimento insuficiente do que podemos esperar encontrar. Possuem uma estrutura mais  refinada e misteriosa.
Para o arqueólogo, a reconstrução é o objetivo e o final de seus esforços, e para o analista, constitui apenas em um trabalho preliminar.
 O analista completa um fragmento da construção e comunica ao paciente, que por sua vez constrói outro fragmento a partir do novo material, assim o trabalho e feito lado a lado, com um dos dois (analista ou paciente), alternadamente, sempre um pouco a frente para que o outro possa segui-lo.
 Termo “construção” como uma descrição mais apropriada que o termo “interpretação”. Interpretação aplica-se a algo que se faz a algum elemento isolado do material, já construção, se dá quando se coloca ao indivíduo fragmentos de sua história primitiva que foi esquecido.    
 Não se é considerado equivoco ou falta de êxito do tratamento a apresentação de uma construção incorreta. Nenhum dano é causado se oferecemos ao paciente uma construção errada como sendo a hipótese provável. O que pode acontecer é que, se ocorrer com freqüência, o paciente pode ficar com más impressões e abandonar previamente o tratamento.
 Haverá a possibilidade de se “corrigir” a incorreta construção quando surgir um novo material que nos permita fazer uma construção melhor, sendo abandonada a construção falsa.
 Muito difícil desencaminhar um paciente por sugestão, fazendo com que aceite coisas que nós próprios acreditamos.
 Existem formas indiretas de avaliar uma confirmação do paciente, exemplos de expressões como “Nunca tinha pensado nisso antes”, ou quando o paciente responde com uma associação que contenha algo semelhante ao conteúdo da construção do analista podem ser um bom sinal.
 Uma reação terapêutica negativa, com sentimentos de culpa, necessidades masoquistas de sofrimento ou repugnância de receber auxilio, podem ser percebidos no paciente quando uma construção errada não causa alteração e  a correta provoca um agravamento dos sintomas.
 Somente o curso da análise nos capacita a decidir se nossas construções são corretas ou inúteis.
 O caminho que parte da construção do analista deveria terminar na recordação do paciente, porem nem sempre isso é possível. O que pode acontecer, é o analista produzir no paciente uma convicção segura da verdade de sua construção que alcançará o mesmo resultado de uma lembrança.
Quando uma construção força o resgate de algo reprimido pode surgir uma força de resistência que somente permita a passagem de detalhes menos significativos das recordações em vez de trazer conteúdos de maior importância.
 Talvez seja uma característica geral das alucinações, conterem conteúdos experimentados na infância que tentam retornar, porem aparecem de forma deformada e deslocada devido a resistência que se opõe a esse retorno.
 Em um quadro de delírio, o ideal seria reconhecer o conteúdo verdadeiro, separando-o de suas deformações e conduzindo-o de volta para o ponto do passado a que pertence.
 Um estado de ansiedade na qual se ocorre a sensação de que algo terrível está para acontecer, está diretamente relacionado a uma lembrança reprimida de que algo realmente ruim aconteceu.

A Obesidade.

            A Organização Mundial da Saúde define hoje a doença obesidade como uma epidemia global, caracterizada pelo excesso de gordura corporal relacionada á massa magra, de causa multifatorial (cuja evolução causa prejuízos físicos/biológicos, psíquicos, sociais, e ambientais) e crônica (sem a existência de cura).
            Do ponto de vista emocional, também se discute a Obesidade como um sintoma psíquico que se apresenta no corpo, (tema que vem sendo abordado desde o séc. xix pela literatura francesa, que deu início a discussão da obesidade como sinais de estress).
            Através da Teoria Psicanalítica fundada por S. Freud (1900) também é possível de se compreender alguns funcionamentos desta doença.
Partiremos do conceito das pulsões descrito por Freud em 1915.
Freud define como pulsão aquilo que representa psiquicamente os estímulos corporais.
Para psicanálise, a pulsão é a responsável pela busca incessante da satisfação e que na tentativa de alcançá-la dirige-se a determinados objetos, exercendo então uma força constante que  nunca alcançará uma satisfação total.
            A pulsão tem objetos definidos, não se “alimenta” somente por necessidades fisiológicas, mas também por uma tentativa de suprir um desejo, uma busca por satisfação.    
            Segundo Freud, a busca do prazer está relacionada com a redução de uma tensão ou evitação de um desprazer, seguindo este pensamento, podemos entender a tentativa do obeso em satisfazer-se através do alimento como uma forma também de aliviar um desconforto, tensão ou ansiedade já pré existente).   
            Podemos também entender o funcionamento emocional do indivíduo obeso através da compreensão da fase que Freud irá nomear como “Fase Oral do desenvolvimento”, onde a boca é a zona erógena de maior libidinização, em que a criança busca o prazer e a satisfação, assim como o seu canal de contato com o mundo externo (x mundo interno) através da oralidade.
Mesmo esta fase progredindo para funcionamentos mais evoluidos, os registros ou uma “fixação” pode levar o indivíduo a uma readaptação deste mesmo funcionamento para a vida jovem/adulta, como se necessitasse reviver este modo de funcionamento emocional.     
            A partir destes conceitos brevemente descritos, já podemos diferenciar o “corpo” representado pela medicina (físico, químico e biológico) do “corpo” representado para a psicanálise (corpo pulsional que deseja e quer ser satisfeito).
            Em geral, umas das primeiras experiências que a criança vivencia ao nascer é amamentação (o ato de alimentar-se), que podemos julgar como uma experiência primária de satisfação através do alimento (o leite), proporcionada pelos cuidados maternos e portanto relacionadas a uma grande carga emocional.
A criança, ao ser alimentada pela mãe (ou por um representante) vivencia também uma grande experiência afetiva (juntamente com o ninar, o colo, o carinho etc.) esta criança vai registrando a boa experiência (ou casos contrários, quando isso não acontece a criança registra uma má experiência)  relacionada ao afeto e o alimento.  
Assim, o hábito alimentar deixa de ser algo somente orgânico, de necessidade física, para também representar uma forma de lidar com conteúdos emocionais. 
            A ausência do alimento (equivocadamente compreendida como fome) pode ser a representação de sofrimentos ou mal estar psíquico.
Segundo Freud, a busca do prazer está relacionada com a redução de uma tensão ou evitação de um desprazer, por isso a busca pelo alimento, também está associada á necessidade do alívio de uma tensão ou sensação desagradável.  
                Podemos dizer então que indivíduos obesos tendenciam a utilizar o prazer oral como forma compensatória para lidar com as dificuldades e desprazeres, fazendo do ato de se alimentar também uma forma de lidar com manifestações emocionais